Another Year (2010)

Realizado por: Mike Leigh
País: Reino Unido

Mike Leigh, aclamado realizador, conhecido pelos seus dramas realistas e intensos, acaba de lançar mais uma obra de mérito e talento. Um olhar durante um ano na vida de um casal feliz, da sua família mais próxima e dos seus amigos. A sua felicidade e serenidade atrai os amigos infelizes que procuram conforto e sobretudo alguém com quem possam falar. Um filme realista, em que o dia-a-dia comum na vida destas pessoas transforma-se num filme extraordinariamente rico, sendo o amor e a solidão os temas em destaque. As interpretações e direcção do filme roçam a perfeição, tornando-o memorável.

The Lovely Bones (2009)

Realizado por: Peter Jackson
País: EUA
Uma jovem de 16 anos é brutalmente assassinada pelo seu vizinho. Após a sua morte, vai sentir dificuldades em abandonar definitivamente a vida terrena, ficando a observar as reacções da sua família e do seu assassino. A sua irmã e o seu pai irão tentar vingar a sua morte. Um filme pouco conseguido, com uma história que não consegui dar muito crédito e que se assiste numa total indiferença. Fica a sensação que o filme ao querer abordar um pouco de cada estilo (drama, fantasia, aventura, comédia e thriller), acaba por perder-se e faz com que não sintamos saudades dele. Peter Jackson já nos apresentou bem melhor, seja com o gore de "Braindead" ou com a fantástica trilogia de "Lord of the Rings".

The Company Men (2010)

Realizado por: John Wells
País: EUA

A empresa de transportes GTX promove uma campanha de despedimentos de funcionários, incluindo altos cargos, devido à recessão e por forma a melhorar os seus lucros. O filme centra-se na vida de três executivos, que após serem despedidos, sentem grandes dificuldades para adaptar-se a uma vida sem luxos. O filme consegue transmitir a frustração e revolta destes homens mas falta-lhe alguma chama para prender mais o espectador. Não conseguindo manter o nível interpretativo e narrativo, cai por vezes num pretensioso sentimentalismo que se torna um pouco irritante. Apesar disso, apresenta um argumento consistente sobre um tema bem actual.

The Housemaid (2010)

Realizado por: Sang-soo Im
País: Coreia do Sul

Filme de intrigas, traições e vingança, trata-se de um "remake" de um clássico coreano de 1960. Sem grande impacto, fica a história típica de um patrão rico que se envolve com a nova criada. Após ficar grávida deste e ser descoberta pela criada mais velha, terá de prestar contas com a patroa e com a mãe desta. No final somos abalados com a terrível vingança da criada, mas não passa disso mesmo, um ligeiro abalo. Temos de dar-lhe crédito pela cinematografia e pelo excelente trabalho de câmara, mas o filme desilude pela forma como falha nos momentos de tensão que tenciona criar.

The Young Victoria (2009)

Realizado por: Jean-Marc Vallée
País: Reino Unido/EUA
Filme baseado nos acontecimentos ocorridos pouco antes e depois da coroação da rainha Victoria de Inglaterra, quando ainda era adolescente. Em conflito aberto com a sua mãe e com o conselheiro desta, Sir John Conroy, Victoria com o passar do tempo, começa a distinguir quais as pessoas que merecerão a sua confiança, apesar da sua juventude e falta de experiência. Inicialmente dividida entre o interesseiro Lord Melbourne e o seu primo Albert, Victoria acaba por casar com este último, contribuindo para a elaboração de reformas políticas e sociais importantes. O filme possui um certo charme, qualidade na caracterização e a história, apesar de simples, é interessante.

The Way Back (2010)

Realizado por: Peter Weir
País: EUA
A fuga de sete homens condenados por traição, de um campo de concentração soviético implantado na Sibéria, chegando a andar mais de 4000 milhas até chegarem à Índia, será só por si motivo para despertar curiosidade. No entanto este novo filme do veterano australiano Peter Weir ("Gallipoli", "The Witness", "Dead Poets Society" e "Master and Commander"), é a prova de que nem toda a grande história faz um bom filme. Apesar das boas intenções, o filme arrasta-se durante mais de duas horas, sem dar nada que já não tenhamos visto antes. Apesar de um ou outro momento de interesse, acaba por tornar-se assim num exercício de resistência, ao invés do esperado grau de satisfação que buscamos ao assistir a um filme.

Martyrs (2008)

Realizado por: Pascal Laugier
País: França

100 minutos de violência extrema, torturas do outro mundo e pessoas deformadas e esquartejadas, é tudo o que este filme tem para oferecer ao espectador. O argumento básico e débil, centra-se nas torturas infligidas a duas irmãs por uma rede clandestina que acredita que se uma mulher passar por diversos estágios de tortura pré-determinados, conseguirá ter visões do além. Posto isto, apenas acrescento que foi também uma autêntica tortura para mim assistir a este filme até ao final...sangue em cima de sangue e tanto sofrimento humano. Apesar de visualmente apelativo, tenham cuidado para não deixar que este filme, sádico e perfeitamente dispensável, caia nas mãos de crianças.

Poetry (2010)

Realizado por: Chang-Dong Lee
País: Coreia do Sul

Uma mulher de 65 anos vai enfrentar sérias dificuldades, ao receber duas notícias chocantes. Ao dirigir-se ao médico devido a ter frequentemente lapsos de memória, é-lhe diagnosticado Alzheimer. Além disso, é confrontada com a morte de uma jovem de 16 anos, vítima de sucessivas violações por parte de seis rapazes, um dos quais é o seu neto. Sendo a responsável pelo rapaz, já que a mãe encontra-se ausente a trabalhar noutra cidade, terá de arranjar dinheiro para indemnizar a mãe da jovem abusada, caso não queira que a polícia intervenha no caso. A sua única consolação é frequentar um curso de poesia, que a vai ajudar a clarificar a mente. Melhor argumento no Festival de Cannes.


Heartbeats (2010)

Realizado por: Xavier Dolan
País: Canadá
Francis, homossexual assumido, tem em Marie a sua melhor amiga. Quando conhecem Nicolas, um jovem acabado de chegar à cidade, ambos apaixonam-se por este, ficando a sua amizade em risco. A competição, cedo se transforma em cenas de ciúmes e posturas mais agressivas. O interessante no filme é observar a ambiguidade de Nicolas no que se refere às suas preferências sexuais, gerando cada vez mais a dúvida nos intervenientes e no espectador. Nesta segunda obra de Xavier Dolan (de 21 anos), o estilo sobrepõe-se à essência, valendo sobretudo pela atitude confiante na realização. Durante o filme são ainda apresentados vários monólogos de desconhecidos sobre o seu falhanço no amor, mas que nada acrescentam à história.

Quiet Chaos (2008)

Realizado por: Antonello Grimaldi
País: Itália
Um drama ao estilo de Nanni Moretti, a estrela principal deste filme, como actor e argumentista. Pietro é um homem de negócios, que um dia ao regressar a casa, após ter ajudado a um salvamento na praia, encontra a sua mulher morta. Emocionalmente alterado e acarretando a responsabilidade de cuidar da filha, Pietro passa todos os dias a esperar por esta num jardim público em frente à escola, em vez de dirigir-se ao trabalho. Após algumas semanas, acaba por receber diversas visitas no local, tanto de colegas de trabalho como de familiares. Ora absorvente, ora difuso, o filme aguenta-se bem, devido principalmente à qualidade da interpretação de Moretti.

Lemon Tree (2008)

Realizado por: Eran Riklis
País: Israel
O filme retrata a luta de uma viúva palestiniana, que se opõe nos tribunais, à ordem dos serviços secretos israelita para cortar o seu campo de limoeiros devido a ser considerado uma ameaça à segurança do novo ministro da defesa israelita e da sua mulher, quando passaram a ser seus vizinhos. Além de tarefa extremamente difícil, uma vez que habita no território ocupado da Cisjordânia, acaba apaixonando-se pelo seu advogado, provocando o falatório na cidade. Mesmo assim, vai conseguir obter a simpatia de uma jornalista israelita e até da mulher do ministro. Apesar da excelente interpretação da actriz principal, o filme não conseguiu tocar-me emocionalmente, o que fará com que não permaneça por muito tempo na memória.

Ballast (2008)

Realizado por: Lance Hammer
País: EUA

No delta do Mississipi, o suicídio de um homem tem repercussões graves na vida de três pessoas a ele ligadas. O seu irmão, que entra em depressão tentando também ele o suicídio. O filho, que sem ter contacto com o pai por este ter abandonado o lar, envolve-se com um grupo de traficantes de droga. A ex-mulher, que se encontra com problemas financeiros e terá de provar que tem direito à moradia que era propriedade do falecido companheiro. A pouco e pouco, estas três personagens vão tentar reconstruir a sua vida, apoiando-se mutuamente e olhando o futuro com esperança. Vencedor para melhor realização no Festival de Sundance.

Blue Valentine (2010)

Realizado por: Derek Cianfrance
País: EUA

Muito bem dirigido e representado, "Blue Valentine" apresenta-nos o drama vivido por um casal à beira da ruptura, após vários anos de casamento. Cindy e Dean, procuram arranjar soluções para o problema, mas nem a filha de 6 anos, nem a tentativa de escape ao quotidiano com uma noite a dois passada num motel, conseguem salvar uma relação já degradada. Ao ser-nos apresentadas cenas do passado do casal, desde a origem do seu relacionamento até ao presente, tiramos algumas pistas que nos levam a pensar que poderiam ter contribuído para o triste final. Um filme bem realista, onde não existem culpados nem moralizações.

Aquilles and the Tortoise (2008)

Realizado por: Takeshi Kitano
País: Japão
Último filme da trilogia auto-biográfica de Takeshi Kitano, que reflecte a sua carreira excêntrica e as suas frustrações criativas. De argumento mais sólido e menos obscuro que as outras duas obras ("Takeshi's" e "Glory to the Filmmaker!"), "Achilles and the Tortoise" é um filme "arty" sobre o que é ser artista e ter de lidar constantemente com as frustrações e obsessões que advêm da procura pelo reconhecimento público. O filme traça a vida de Machisu, que incentivado pelo pai a tornar-se pintor, dedica a sua vida inteira a esse objectivo sem nunca obter o sucesso almejado. A sua obsessão chega ao ridículo, com situações de puro humor negro, e levando-o quase à morte.

The Fighter (2010)

Realizado por: David O. Russell
País: EUA
Drama sobre "Irish" Micky Ward, campeão de boxe em pesos leves no ano 2000. Nesta história verídica, nem tudo foi fácil para Micky, que teve a sua maior dificuldade no que toca a lidar com a sua própria família, dependentes dos seus combates para ganhar algum dinheiro. A mãe era a sua "manager" e apenas pensava na parte financeira, enquanto o irmão Dicky, um ex-boxeur que ficara famoso por ter derrubado Sugar Ray Leonard, e agora viciado em crack, era o seu irresponsável treinador e conselheiro. Incentivado pela namorada, Micky vai tentar mudar o rumo das coisas, juntando-se a profissionais para poder vingar no boxe. Mas será que consegue manter-se afastado da família?

Lourdes (2009)

Realizado por: Jessica Hausner
País: França
Lourdes, local em França que acolhe milhares de pessoas que esperam um milagre que as cure das suas doenças, é o palco para este filme de argumento compassado e absorvente. Christine tem uma doença ligada ao sistema nervoso que a impede de andar. Juntamente com um grupo de peregrinos, parte para Lourdes, mais para escapar ao seu quotidiano do que propriamente por acreditar que algum milagre seja possível. Mas inexplicavelmente Christine é curada, suscitando o falatório e até certa indignação nalguns presentes. A beleza do filme está exactamente na abordagem da inveja e mesquinhez de algumas pessoas que frequentam estes locais. Vencedor da Viennale 2009 e de 4 prémios no Festival de Veneza.

You Don´t Know Jack (2010)

Realizado por: Barry Levinson
País: EUA

Al Pacino no seu melhor, neste filme realizado para a TV por Barry Levinson ("Sleepers", "Rainman", "Good Morning Vietnam"). Um olhar sobre a vida do Dr.Jack Kevorkian, mais conhecido nos anos 90 como "Dr.Morte", por ter sido o principal defensor do suicídio com recurso a assistência médica para doentes terminais. Desafiando as leis americanas e a opinião pública conservadora, Jack vai defender-se a si próprio no Supremo Tribunal, de modo a libertar-se da acusação de ter assistido cerca de 100 doentes terminais em agonia a cometer suicídio. Uma luta em que dificilmente sairá vencedor.

Singularidades de uma Rapariga Loira (2009)

Realizado por: Manoel de Oliveira
País: Portugal
Num comboio para o Algarve, um homem desesperado, conta a sua história de amor a uma estranha que viaja a seu lado. Recorrendo a flash-backs, são-nos apresentados os motivos pelos quais esse amor o levou à ruína. Interessante o quanto baste, trata-se de um conto moral acerca da influência do dinheiro na nossa sociedade e das consequências que teve sobre um relacionamento condenado à partida. Com 101 anos, Oliveira mostra que ainda dá cartas. Como referência maior deste cineasta, destaco "Aniki Bóbó", verdadeiro clássico do cinema português, que juntamente com "Belarmino" e "Uma Abelha na Chuva", ambos de Fernando Lopes, assim como algumas obras de João César Monteiro, fazem o nosso orgulho.

Love Exposure (2008)

Realizado por: Shion Sono
País: Japão
Apesar das suas 4 horas de duração, foi com grande interesse que assisti a esta estranha comédia, onde os momentos de excesso são puras sátiras à própria cultura japonesa, apresentadas de diferentes formas (exploração hilariante de temas como o kung-fu, religião, família, cultos, perversões, pecado, etc.) Inspirando-se com certeza em "comic-books", onde as personagens são autênticos super-heróis, trata-se também de uma história de amor, talvez a menos convencional a que já assisti até hoje. Premiado no Festival de Berlim e em diversos festivais asiáticos, é um filme a não perder, tanto pelo seu conteúdo, como pela forma visualmente brilhante e original que nos é apresentado.

You Will Meet a Tall Dark Stranger (2010)

Realizado por: Woody Allen
País: EUA
Filme que analisa a ruptura entre dois casais pertencentes a duas gerações diferentes. Alfie, já no último terço da sua vida, separa-se e volta a casar com uma mulher muito mais nova mas de pouca confiança. A sua ex-mulher, Helen, procura consolo com uma vidente fraudulenta que até acaba por ajudar. Sally, filha de Alfie e Helen, também está a passar por problemas matrimoniais. Com um "fraquinho" pelo seu patrão, acaba por sair desiludida, enquanto o marido Roy, um escritor falhado, não partilha da sua vontade de ter um filho e parte para uma aventura com a vizinha do prédio em frente. Uma magnífica banda sonora acompanha estas histórias típicas de Allen, mas que estão longe do fulgor de outros tempos...