The Turin Horse (2011)

Realizado por: Béla Tarr
País: Hungria
Não é nada fácil entrar no universo do mestre húngaro Béla Tarr, mas uma vez entrando, nunca mais conseguimos sair ou esquecer as magníficas imagens a preto-e-branco que conseguem falar por si próprias. Este é um filme repetitivo e duro de assistir, assim como é dura e repetitiva a vida das suas personagens. Baseado num evento registado em 1889 protagonizado pelo filósofo alemão Nietzsche, Tarr dá asas à imaginação, criando um filme sobre a morte. Um pai e uma filha tentam tudo para sobreviver, após o seu cavalo, único meio de subsistência, adoecer. Consegue fazer-nos suspirar de angústia e desconforto, com o "fim do mundo" para estas personagens a ser encarado com tristeza e resignação.

Warrior (2011)

Realizado por: Gavin O'Connor
País: EUA

Apesar de já ter sido comparado ao velhinho "rocky" ou ao mais recente "the fighter", achei que "warrior" não se encontra ao mesmo nível que aqueles. Sofrendo dos males comuns de muitos filmes deste género, é demasiado manipulativo no que respeita ao drama por detrás da acção, sendo que a emoção vem toda dos bem caracterizados combates selvagens. Dois irmãos que não se falam há algum tempo, vão defrontar-se num torneio de artes marciais por causas nobres. Além disto vão ter de lidar com o seu pai, um ex-alcoólico que lhes transformou a infância num inferno e que agora treinará um deles. Tudo muito arrumadinho e bem preparado até ao combate final, num filme que entretém sem deslumbrar.

The Mill And The Cross (2011)

Realizado por: Lech Majewski
País: Polónia

Com o veterano actor Rutger Hauer no papel do pintor renascentista flamengo Pieter Bruegel, estamos aqui perante um filme que consegue promover um encontro perfeito entre pintura e cinema. O realizador tem a brilhante ideia de pegar no quadro "the way to calvary" de 1564 daquele pintor, tentando passar para o écran de forma muito particular o que motivou Bruegel a conceber esta obra tão polémica e tão característica da sua época. Visualmente irrepreensível e denotando um fantástico trabalho de luz, onde as imagens reais se misturam com a pintura, é realmente uma experiência única a não perder.

HaHaHa (2010)

Realizado por: Sang-Soo Hong
País: Coreia do Sul

2 amigos vão tomar um copo para despedida de um deles que se encontra de partida para o Canadá. Ao descobrirem que ambos estiveram recentemente numa pequena cidade coreana de nome Tongyeong, começam a contar as aventuras amorosas que passaram naquela cidade. A narrativa é bastante interessante, com a visualização das diversas histórias contadas, mas aqui e ali o filme arrasta-se, fazendo com que se vá perdendo o interesse rumo ao final. Vencedor da secção Un Certain Regard do Festival de Cannes.

Beyond (2010)

Realizado por: Pernilla August
País: Suécia
Pernilla August estreia-se na realização, após ter tido a "escola" toda com alguns mestres suecos, como Ingmar Bergman, com quem participou como actriz em "fanny and alexander", ou Bille August em "the best intentions". "Beyond" para filme de estreia ficou acima das expectativas. A realização é boa, a história fortíssima e as interpretações convincentes, tornando-o num daqueles "dramalhões" que é impossível ficar-se indiferente. Um filme tocante sobre um trauma de infância e as marcas profundas que deixou para a vida, faz-nos pensar que infelizmente para muita gente este filme corresponderá à realidade. Premiado em Veneza, São Paulo, Hamburgo, Lubeck e Suécia.

Margin Call (2011)

Realizado por: J.C. Chandor
País: EUA
Filme bem actual que faz uma excelente caracterização dos "homens do poder" de um banco de investimentos, após detectarem que estão à beira da falência. Uma noite de pressões e decisões para estes sedentos de milhões de dólares, que são capazes de tudo para arranjar soluções que sirvam os seus interesses. Os conflitos internos e a frieza inumana que os caracteriza são bem explícitas, sendo explorada de forma magistral a questão das hierarquias, onde se constata a inutilidade dos cargos de topo e os balúrdios financeiros adquiridos. Um filme que espelha a nossa época e que nos faz concluir que acções populares pacíficas como o "Occupy Wall St." fazem todo o sentido.

Phase 7 (2011)

Realizado por: Nicolas Goldbart
País: Argentina
Misturando comédia negra, sci-fi e acção, retrata o início de uma pandemia que cedo se torna numa batalha mortal entre vizinhos num edifício colocado em quarentena. Coco é o personagem principal do filme. Preguiçoso e desleixado, vai aliar-se ao seu paranóico vizinho Horácio, que se revelará de extrema importância para a sua sobrevivência no prédio. Não sendo nada de transcendente e recorrendo a um tema já tantas vezes abordado, possui no entanto um humor mórbido que consegue manter o filme e fazer-nos soltar alguns risos, quase que envergonhando o recente "contagion" de Soderbergh. Não nos leva a lugar nenhum, mas tem o mérito de conseguir manter os níveis de adrenalina elevados.

Another Earth (2011)

Realizado por: Mike Cahill
País: EUA
Aproveitando a onda de "melancholia" de Von Trier, surge "another earth", a segunda realização de Mike Cahill. Um planeta em tudo semelhante ao nosso encontra-se no céu e bem à vista de todos. Ao mesmo tempo que concorre para a primeira viagem à "Terra 2", como é chamado este novo planeta, Rhoda aproxima-se de John, um músico que perdeu a família num trágico acidente de automóvel. O que John desconhece é que Rhoda foi a responsável por esse acidente, numa altura em que era adolescente e se encontrava alcoolizada. O argumento não convence, dando a nítida sensação de que a parte de ficção científica foi colocada apenas para servir os propósitos do desfecho final.

The Robber (2010)

Realizado por: Benjamin Heisenberg
País: Alemanha

Sem grande "show-off" ou floreados desnecessários , "the robber" baseia-se na vida real de Johann Rettenberger, um maratonista que tinha como "hobby" assaltar bancos. Acabado de sair da prisão onde cumpriu pena por um assalto, Hans (como era conhecido) tem novas oportunidades para levar uma vida honesta. Além de voltar a correr e a ganhar maratonas, acaba por apaixonar-se inesperadamente por Erika, uma velha amiga . A questão principal, e que o filme explora muito bem, é saber se este homem conseguirá levar uma vida normal, libertando-se da sua maior obsessão. Emotivo q.b.

Outrage (2010)

Realizado por: Takeshi Kitano
País: Japão

Kitano é um realizador versátil e foi autor de grandes obras em diversos géneros, como "kikujiro", "fireworks" , "dolls" ou "zatoichi". Com "outrage" volta a um tema conhecido e que se sente bem à vontade - a máfia japonesa. A disputa pelo poder entre famílias mafiosas é aqui retratada entre incontáveis traições, subornos e corrupção. A morte de quase todas as personagens não surpreende, sendo que não apresenta novidades ao nível do desenvolvimento da história. Num misto típico de humor e violência (aqui sim há uma certa originalidade nas torturas), acaba por não superar as expectativas e faz-nos questionar: "onde é que eu já vi isto antes?"

The Autobiography of Nicolae Ceausescu (2010)

Realizado por: Andrei Ujica
País: Roménia

Filme que explora a imagem do ditador socialista romeno Ceaucescu, recorrendo exclusivamente a imagens de arquivo não oficiais. Sem narrativa, o filme vai alternando entre discursos, ovações populares, visitas de reconhecimento e encontros com diversos presidentes. Excessivamente longo, por vezes torna-se aborrecido nas partes em que a polémica não está à vista, mas transmite bem a ideologia anti-capitalista defendida por um homem que foi responsável por diversos massacres ao longo das duas décadas que esteve no poder, recorrendo a um regime brutal e opressivo.

Sleeping Beauty (2011)

Realizado por: Julia Leigh
País: Austrália
Filme de estreia para a australiana Julia Leigh apoiada pela sua conterrânea de maior sucesso, Jane Campion. Alvo de polémica, discussões e diversas críticas antagónicas após ser exibido em Cannes, trata-se de um filme frio e até distante, mas com muito que se lhe diga. Lucy é uma estudante universitária que para arranjar dinheiro (aparentemente para o seu namorado alcoólico), decide aceitar uma proposta para um trabalho pouco comum, além dos diversos empregos que já possui. Os diálogos não são um ponto forte do filme e não existem respostas concretas para o que se vai passando, chegando até a deixar uma sensação de vazio no final, mas também é verdade que nunca chega a tornar-se desinteressante.

The Names of Love (2010)

Realizado por: Michel Leclerc
País: França

Trata-se de uma comédia romântica francesa com personagens invulgares e inspirando-se na política francesa, nas diferenças raciais e na originalidade dos nomes das pessoas para servir de suporte às diversas "gags" criadas. Arthur Martin é um franco-judeu que um dia por acaso encontra Baya, outra francesa de origem argelina. A diferença entre ambos é abismal, tanto na idade como no resto, mas este casal está decidido a seguir em frente, mesmo parecendo que nada pode bater certo. Um filme modesto que se acompanha bem até final mas que não conseguiu entusiasmar-me.

Bellflower (2011)

Realizado por: Evan Glodell
País: EUA

Caos e alienação é o que este filme de estilo independente tem para oferecer. Dois amigos passam o seu tempo livre a construir um lança-chamas e sonhando com dias de acção para o seu gang imaginário denominado "medusa". Ao conhecerem um par de amigas numa noitada, vão envolver-se emocionalmente com estas, o que irá agravar o seu caos quotidiano. Das personagens deste filme pouco ou nada se retira de positivo e a conclusão a que se chega no final é de que todas elas precisam urgentemente de orientação psicológica.

Morrer Como um Homem (2009)

Realização: João Pedro Rodrigues
País: Portugal

A homossexualidade já se tornou o tema de marca dos filmes de João Pedro Rodrigues. "O fantasma" em 2000 e "odete" em 2005, são disso prova. Desta vez a forma de a abordar é através de Tonia, um veterano travesti, que se depara com diversas contrariedades no trabalho, na vida privada e na saúde. Um filme que não está isento de falhas, mas que assume os riscos frontalmente e sem medo de ir em frente naquilo que se propõe demonstrar. Poderia ser melhor se tivesse um pouco mais de zelo no argumento, mas as magníficas interpretações garantem o filme que foi premiado no Festival de Buenos Aires e obteve 2 nomeações para os Globos de Ouro de Portugal.

Black Venus (2010)

Realizado por: Abdel Kechiche
País: França
Este é um dos filmes mais directos e desconfortáveis que vi nos últimos tempos. Conta a verdadeira história de Saartjie, uma mulher da tribo sul-africana hotentote, que chega a Londres no ano 1808 para ser exibida como aberração num show produzido pelo seu ganancioso patrão branco. Problemas com a justiça inglesa, irão fazer com que parta para Paris, onde a libertinagem da aristocracia evidenciava-se como um cenário mais favorável. Mas a humilhação irá continuar, sendo ainda objecto de investigação científica e acabando os seus dias como prostituta e alcoólica. O seu busto que estava em exibição num museu de Paris foi devolvido à África do Sul após o fim do apartheid.

A Separation (2011)

Realizado por: Asghar Farhadi
País: Irão
A qualidade do cinema iraniano volta a ser destaque, mais uma vez pela mão de Asghar Farhadi, o realizador que já nos tinha presenteado em 2009 com "about elly". Se este já me tinha agradado imenso, "a separation" agradou muito mais. Com magníficas interpretações e realização simples, o filme toca em tantos pontos sensíveis da cultura iraniana que em tão poucas linhas não conseguiria enumerar tudo. Mas não se fica por aqui, pois foca também conflitos e teimosias comuns à vida de qualquer casal. Com apenas 5 trabalhos lançados, Farhadi pode figurar ao lado de Kiarostami, Makhmalbaf, Ghobadi e Majidi, como um dos maiores representantes do cinema iraniano.

Amer (2009)

Realizado por: Bruno Forzani e Helene Cattet
País: Bélgica
Um estranho filme experimental que recorre a sons, jogos de luz, respirações, cores e ambientes assustadores para contar em 3 partes a história macabra de Ana. Cada uma das parte representa um marco importante na vida desta personagem. A primeira na infância e o contacto com a morte e o sobrenatural, a segunda na adolescência e o desejo sexual reprimido, e a terceira na idade adulta com o regresso à casa da infância, a negação do desejo sexual e a aniquilação do objecto de desejo. A ideia é original e o resultado final é um misto de satisfação juntamente com a sensação de que poderia ser bem melhor, caso desse mais ênfase à narrativa em detrimento do turbilhão de imagens e sons.

Leap Year (2010)

Realizado por: Anand Tucker
País: Reino Unido

Confesso que este veio parar-me à mão por engano. Estava à espera de um filme mexicano de título original "año bisiesto", do mesmo ano e cujo título internacional era igualmente "leap year". Quando detectei o erro, apercebi-me logo que este não seria o meu género de filme, o que veio rapidamente a confirmar-se. Sem ponta por onde pegar, trata-se de um filme ridiculamente banal e sem graça, que nem para passar tempo serve de tão chato que é. Não o aconselho a ninguém e espero que enganos destes não me ocorram mais.

Drive (2011)

Realizado por: Nicolas Winding Refn
País: EUA

O dinamarquês Refn, sempre foi adepto da violência, bem evidenciada em filmes anteriores como "bronson" e "valhalla rising", e com "drive" não foge à regra. Neste caso a violência apresentada é sustentada através de uma boa história, aliada a uma boa realização e interpretação. Ryan Gosling interpreta um condutor que faz de "duplo" para o cinema e que ocasionalmente envolve-se em negócios obscuros, sempre de acordo com as regras que ele próprio estabelece. Tudo isto irá piorar quando conhece Irene, uma vizinha por quem se sente atraído, decidindo ajudar em tudo o que for preciso. A fogo lento, vai subindo de intensidade até final, sendo ainda de destacar a estranha banda sonora utilizada.