Chantrapas (2010)

Realizado por: Otar Iosseliani
País: França/Geórgia
De estilo ímpar, Iosseliani é caracterizado por enveredar por um estilo independente e sarcástico. Desta vez, faz um filme sobre um realizador georgiano (com muito de autobiográfico) que enfrenta dificuldades em exibir o seu cinema no seu país, devido à censura do regime soviético de então. Frustrado mas fiel aos seus princípios (recusando filiar-se no partido marxista), parte para França, mas cedo se apercebe que os produtores franceses também não lhe proporcionam a liberdade criativa que reclama. "chantrapas" que significa exilado/banido, recorre ao surrealismo para mostrar o "afundar" da criatividade, sendo um filme que vale pela coragem e honestidade demonstradas, mas que dificilmente agradará à maioria dos espectadores.

Jane Eyre (2011)

Realizado por: Cary Fukunaga
País: EUA
Dezenas de "remakes" já foram feitos baseando-se nesta popular obra literária de Charlotte Bronte. A beleza e a personalidade de uma governanta vão conquistar o coração do seu patrão. No entanto, ele esconde um segredo que mudará o rumo dos acontecimentos. Esta versão, apesar de contar com boas interpretações e da excelente recriação do ambiente da época, não proporcionou grande impacto. Contando com uma grande aceitação pela crítica americana, o problema talvez resida no facto da história já ser conhecida e sendo assim, as surpresas não são em grande número, deixando o espectador mais num estado de contemplação do que propriamente de emoção.

Win Win (2011)

Realizado por: Tom McCarthy
País: EUA

"Win Win" é um filme simpático, com personagens bem definidas e interessantes. Conta a história de Mike, um advogado (e treinador de wrestling nas horas livres) com dificuldades financeiras, que se torna "guardião" de um seu cliente de idade avançada e dado como incapacitado para viver sozinho, apenas para receber o dinheiro da sua pensão. Ao colocar o velhote num lar de idosos, Mike julga ter dado o golpe perfeito para resolver os seus problemas. Mas a chegada inesperada de um neto do velhote, de 16 anos, irá provocar mudanças nos seus planos de vida familiar e desportiva. As excelentes interpretações ajudam a consolidar o realismo da história.

The Human Resources Manager (2010)

Realizado por: Eran Riklin
País: Israel

O responsável pelos recursos humanos de uma padaria em Israel, tentando recuperar a boa imagem posta em causa por um artigo difamatório de um jornal local, parte para uma viagem à Rússia a fim de levar o corpo de uma ex-funcionária natural daquele país recentemente falecida. Ao tentar estabelecer contacto com os familiares da defunta, vai perceber que nem tudo será fácil. Ficam na retina paisagens desoladoras num filme pouco memorável. Quando tenta ser engraçado para quebrar o ritmo arrastado, não é muito bem sucedido, o que também acontece quando envereda pela via sentimental e dramática.

13 Assassins (2010)

Realizado por: Takashi Miike
País: Japão

Surpreendente incursão de Takashi Miike pelos filmes de samurais, após ter ficado conhecido por algumas das mais bizarras obras que marcaram o cinema moderno. A história deste filme leva-nos a um dos maiores vilões jamais vistos em histórias de samurais (Lord Naritsugo) e invoca os melhores clássicos do género, popularizados por Akira Kurosawa. Pessoalmente, prefiro a originalidade dos filmes anteriores de Miike, casos de "the happiness of the katakuris" e "bird people in china", mas este não deixa de marcar um lugar de destaque dentro do seu género, contando com uma excelente realização e entretenimento assegurado.

A Screaming Man (2010)

Realizado por: Mahamat-Saleh Haroun
País: Chade

Adam Ousmane, é um homem na casa dos sessenta e antigo campeão de natação. Daí a sua paixão pelo seu trabalho: responsável pela piscina de um hotel, local onde também trabalha o seu filho. Quando o hotel é privatizado, começam a haver ajustes de tarefas e despedimentos que irão influenciar a vida da família Ousmane. Aos poucos, vamos entrando no mundo de Adam, compreendendo os seus problemas e sentindo a sua angústia, onde a guerra e a insegurança também marcam presença. Com uma carga emocional muito forte, ficamos aturdidos pela brutalidade do seu desfecho.

Barney's Version (2010)

Realizado por: Richard J. Lewis
País: EUA

O filme retrata a vida do irascível e energético Barney Panofsky desde a sua juventude até à sua morte. Passando por diversos casamentos, Barney fixa-se finalmente em Miriam, a verdadeira mulher da sua vida, mas a vida prega partidas e nem sempre irá correr de feição. Competente sem ser deslumbrante ou algo que não tivéssemos visto antes, vive muito da magnífica interpretação de Paul Giamatti, o actor carismático que tem provado o seu real valor nos papeis principais que desempenha, como em "sideways"(2004) e "win win"(2011) - este último a ser comentado brevemente. Dustin Hoffman no papel de pai, dá o toque de humor final.

The Girl Who Kicked the Hornet's Nest (2009)

Realizado por: Daniel Alfredson
País: Suécia

Última parte da trilogia Millenium, baseada na obra literária de Stieg Larsson. Apesar de "the girl with the dragon tattoo" ser o filme mais badalado e estar a ser alvo de um remake americano pelo realizador David Fincher, achei que esta última parte encontra-se ao mesmo nível do outro. O enredo até corria bem, mas no último terço, o "caldo" é entornado com o acerto de contas feito pela cyber-punk Lisbeth Salander, a deixar muito a desejar e a acabar com a questão de forma a despachar a coisa. Resumindo: acompanha-se bem, mas sem grandes níveis de entusiasmo.

Incendies (2010)

Realizado por: Denis Villeneuve
País: Canadá

Um filme poderoso e perturbador. Com um enredo bem construído, tem o condão de nos prender do princípio ao fim, até ao choque final. Dois gémeos de origem palestiniana a viverem no Canadá, recebem duas cartas da mãe, preparadas para serem entregues após a sua morte. As cartas dizem que deverão procurar o seu pai, o qual julgavam morto, e o seu irmão que nunca chegaram a conhecer. Para isso terão de viajar até ao Médio Oriente para descobrir a verdade há muito escondida. Um grande filme, que teria sido um digno vencedor do Óscar para melhor filme estrangeiro 2011.

The Yellow Sea (2010)

Realizado por: Na Hong Jin
País: Coreia do Sul
Gu-Nam, um taxista viciado no jogo, endivida-se, acabando por ser ameaçado por um grupo mafioso. A sua mulher encontra-se desaparecida em Seul, para onde partiu com o objectivo de ganhar dinheiro extra. É então que, sabendo da situação, um gangster local faz-lhe uma proposta: partir clandestinamente para aquela cidade a fim de matar um homem. Em troca, este liquidará a sua dívida, enquanto Gu-Nam poderá procurar a sua mulher. O argumento é bom, mas o filme à boa maneira coreana insiste em demasiados banhos de sangue e em perseguições levadas ao exagero, acabando por causar algum cansaço, após mais de duas horas e meia. Do realizador de "the chaser", filme já comentado neste blog.

The First Beautiful Thing (2010)

Realizado por: Paolo Virzi
País: Itália

Este é o 11º filme de Paolo Virzi e o que mais sucesso obteve até agora. Ao estilo familiar, começou por não me cair muito em graça, pretendendo ser um daqueles dramas profundos e ao mesmo tempo comédia ligeira à italiana. Com o andar do filme, o nível sobe, mas apesar de alguns momentos afectuosos e engraçados, não consegue ser um filme marcante e inesquecível. Prémios do cinema italiano para as duas actrizes que dão corpo à personagem principal, em fases distintas da sua vida.

Biutiful (2010)

Realizado por: Alejandro Gonzalez Iñarritu
País: Espanha/Mexico
Filme triste e depressivo de um realizador já confirmado ("amores perros", "21 grams", "babel"). Uxbal (Javier Bardem) depara-se com todo o tipo de problemas, incluíndo: um cancro na próstata, a relação com a sua mulher bipolar e infiel, a educação dos seus filhos, um trabalho ilegal envolvendo imigrantes e o ter de lidar constantemente com a morte (quer através do contacto com espíritos, ajudando-os a seguirem o seu "caminho" a troco de dinheiro das famílias, quer através de visões da própria morte). Apesar de extremamente pesado no seu conteúdo, não é mau filme, retratando uma possível vida de angústia e sofrimento de um homem, que apenas se libertará através da morte. Não será este o caso de tanta gente?

The Adjustment Bureau (2011)

Realizado por: George Nolfi
País: EUA

O que à primeira vista parecia ser um filme regular sobre um político americano, acaba por surpreender, mas não tanto pela positiva, ao apresentar-nos uma história futurista num estilo "Big Brother" com vida pré-determinada. Uma organização misteriosa que controla as vidas humanas desde o seu começo, não consegue impedir que o congressista David Norris tenha um caso com Elise, uma bailarina. Ficarem juntos, implica a não realização dos seus sonhos de vida e um falhanço nos planos da Organização. Passagens subterrâneas de vários níveis (a fazer lembrar as camadas de sonhos do excelente "inception"), tornam possível a fuga.

Potiche (2010)

Realizado por: François Ozon
País: França

Um filme feminista e com alguma piada sobre Suzanne, uma mulher submissa que, após o rapto do marido por um conjunto de trabalhadores grevistas da fábrica em que é patrão, toma as rédeas da família e do trabalho, provando que é uma líder eficiente. Para complicar, Suzanne reencontra um antigo amante que nunca a esqueceu e que é líder de um sindicato. É o regresso de Ozon à comédia após o bem sucedido "8 women". Não sendo nada de especial, fica um filme minimamente divertido e muito bem interpretado pela magnífica Catherine Deneuve.

Norwegian Wood (2010)

Realizado por: Tran Anh Hung
País: Japão

Baseado no romance de Haruki Murakami, "norwegian wood" foi adaptado ao cinema pelo magnífico realizador vietnamita Tran Anh Hung, responsável por filmes de excelente qualidade, como: "cyclo"(1995), "scent of green papaya"(1993) ou "the vertical ray of the sun"(2000). Desta feita, Hung não conseguiu alcançar o mesmo nível dos seus filmes anteriores, talvez devido à responsabilidade acrescida de ter de adaptar uma obra literária de sucesso e não escrita por si. No entanto, apesar de estar bem longe do brilhantismo ou de conseguir envolver-nos demasiado na trama, vale pela experiência visual que proporciona.

Machete (2010)

Realizado por: Robert Rodriguez
País: EUA
Filme ao estilo a que já nos habituou Robert Rodriguez, recorrendo à acção com violência extrema e à comédia flácida. Em projectos anteriores funcionou bem ("El Mariachi", "Grindhouse"), mas não neste. Contando com actores tão distintos como Danny Trejo, Steven Seagal e Robert De Niro, trata-se de uma história de matança envolvendo um ex-agente federal, forças políticas e guardas da patrulha fronteiriça, recorrendo aos velhos clichés de sempre e tornando-se assim uma verdadeira monotonia de assistir, apesar do rebuliço da acção constante. A única coisa positiva que encontrei neste filme foi a abordagem de censura visando a política de emigração dos EUA. A evitar!

Restrepo (2010)

Realizado por: Tim Hetherington
País: EUA

Primeiro e último documentário de Tim Hetherington, realizador e jornalista britânico recentemente falecido na Líbia. Um ano a acompanhar um pelotão americano que se encontrava a operar no vale mais perigoso do Afeganistão (Korengal) e um olhar sobre as marcas deixadas em cada um dos soldados que lá serviram. Sem entusiasmar demasiado ou tocar profundamente, é um filme que mostra de forma crua as agruras da guerra, a camaradagem entre os soldados e o factor psicológico após a retirada. Vencedor do grande prémio do júri no Festival de Sundance e nomeação para melhor documentário da Academia americana.

Exit Through The Gift Shop (2010)

Realizado por: Banksy
País: EUA

Documentário realizado pelo misterioso artista de rua, Banksy, sobre um excêntrico francês, que alcança um sucesso inesperado quando altera diversas obras de arte e usa o nome do realizador deste filme para promover a sua exposição. De nome Thierry, este artista francês é um compulsivo das filmagens, considerando-se ele próprio um realizador e artista de rua. O filme é divertido e capta a atenção pelas estranhas personagens intervenientes, pondo ao mesmo tempo a ridículo alguns casos inacreditáveis de sucesso imediato nos EUA.

La Nostra Vita (2010)

Realizado por: Daniele Luchetti
País: Itália

Claudio é um operário da construção civil que vive feliz com a sua mulher, grávida do seu terceiro filho. Quando esta morre, durante o parto, a vida de Claudio desaba completamente, levando-o a acções e comportamentos fora do normal. Na tentativa de dar uma volta à sua vida e de enriquecer depressa, vai aventurar-se num esquema perigoso, relegando os seus filhos para segundo plano. Argumento interessante, perdendo cada vez mais força à medida que se encaminha para o final. Elio Germano foi galardoado como melhor actor no Festival de Cannes.

A Call Girl (2009)

Realizado por: Damjan Kozole
País: Eslovénia

Aleksandra é uma ambiciosa estudante universitária de 23 anos, que acaba por prostituir-se em Lubjlana para poder ter uma vida luxuosa. Após comprar um novo apartamento e de quase cair nas mãos de uma rede de prostituição, da qual consegue escapar com dificuldade, vai passar por sérios problemas, entre os quais: a ameaça de vir a ser descoberta, a difícil coordenação com os estudos e a necessidade de obter os meios financeiros para pagar o empréstimo ao banco do seu apartamento de luxo. Uma realidade bem possível num filme que não está isento de falhas, mas que se assiste com interesse.