You Don´t Know Jack (2010)

Realizado por: Barry Levinson
País: EUA

Al Pacino no seu melhor, neste filme realizado para a TV por Barry Levinson ("Sleepers", "Rainman", "Good Morning Vietnam"). Um olhar sobre a vida do Dr.Jack Kevorkian, mais conhecido nos anos 90 como "Dr.Morte", por ter sido o principal defensor do suicídio com recurso a assistência médica para doentes terminais. Desafiando as leis americanas e a opinião pública conservadora, Jack vai defender-se a si próprio no Supremo Tribunal, de modo a libertar-se da acusação de ter assistido cerca de 100 doentes terminais em agonia a cometer suicídio. Uma luta em que dificilmente sairá vencedor.

Singularidades de uma Rapariga Loira (2009)

Realizado por: Manoel de Oliveira
País: Portugal
Num comboio para o Algarve, um homem desesperado, conta a sua história de amor a uma estranha que viaja a seu lado. Recorrendo a flash-backs, são-nos apresentados os motivos pelos quais esse amor o levou à ruína. Interessante o quanto baste, trata-se de um conto moral acerca da influência do dinheiro na nossa sociedade e das consequências que teve sobre um relacionamento condenado à partida. Com 101 anos, Oliveira mostra que ainda dá cartas. Como referência maior deste cineasta, destaco "Aniki Bóbó", verdadeiro clássico do cinema português, que juntamente com "Belarmino" e "Uma Abelha na Chuva", ambos de Fernando Lopes, assim como algumas obras de João César Monteiro, fazem o nosso orgulho.

Love Exposure (2008)

Realizado por: Shion Sono
País: Japão
Apesar das suas 4 horas de duração, foi com grande interesse que assisti a esta estranha comédia, onde os momentos de excesso são puras sátiras à própria cultura japonesa, apresentadas de diferentes formas (exploração hilariante de temas como o kung-fu, religião, família, cultos, perversões, pecado, etc.) Inspirando-se com certeza em "comic-books", onde as personagens são autênticos super-heróis, trata-se também de uma história de amor, talvez a menos convencional a que já assisti até hoje. Premiado no Festival de Berlim e em diversos festivais asiáticos, é um filme a não perder, tanto pelo seu conteúdo, como pela forma visualmente brilhante e original que nos é apresentado.

You Will Meet a Tall Dark Stranger (2010)

Realizado por: Woody Allen
País: EUA
Filme que analisa a ruptura entre dois casais pertencentes a duas gerações diferentes. Alfie, já no último terço da sua vida, separa-se e volta a casar com uma mulher muito mais nova mas de pouca confiança. A sua ex-mulher, Helen, procura consolo com uma vidente fraudulenta que até acaba por ajudar. Sally, filha de Alfie e Helen, também está a passar por problemas matrimoniais. Com um "fraquinho" pelo seu patrão, acaba por sair desiludida, enquanto o marido Roy, um escritor falhado, não partilha da sua vontade de ter um filho e parte para uma aventura com a vizinha do prédio em frente. Uma magnífica banda sonora acompanha estas histórias típicas de Allen, mas que estão longe do fulgor de outros tempos...

The Chaser (2008)

Realizado por: Na Hong-Jin
País: Coreia do Sul

Joong-Ho é um ex-polícia que se tornou proxeneta para ter uma vida mais fácil. Após o desaparecimento de uma data de raparigas que para ele trabalham, Joong-Ho chega à conclusão que todas receberam contacto telefónico de um determinado número de telemóvel. Pensando que poderá tratar-se de comércio de prostitutas, vai investigar algumas pistas, deparando-se com um verdadeiro serial-killer. Filme de estreia deste realizador coreano, que dando voltas e mais voltas no argumento, garante acção e suspense do princípio até ao final.

127 Hours (2010)

Realizado por: Danny Boyle
País: EUA
Depois do enorme sucesso com "Slumdog Millionaire" em 2008, eis o regresso de Danny Boyle, desta vez baseando-se nos acontecimentos da vida do alpinista Aron Ralston, célebre por ter cortado o seu próprio braço, após ter estado 127 horas preso num desfiladeiro em Utah, nos EUA. Com um argumento um pouco preso de movimentos, Boyle acaba por preencher e até aligeirar um pouco a tensão através da banda sonora e dos instantes em que nos proporciona o que vai na cabeça de Ralston (alguma fantasia, recordações da família e da ex-namorada). Como o próprio Boyle o descreveu, trata-se de um filme de acção com um homem parado, o que não deixa de ser irónico.

The King's Speech (2010)

Realizado por: Tom Hooper
País: Reino Unido
Filme inteligente sobre a ascensão ao trono do homem que viria a tornar-se no rei George VI do Reino Unido desde 1936 até à sua morte, e a maneira como lidou com o seu problema de gaguez por forma a fazer os tão importantes discursos ao povo, em época de guerra contra a Alemanha. Após vários terapeutas consultados, a confiança recai sobre Lionel, um australiano que alia a terapia da fala a um pouco de psicologia. Desta forma, vai libertar-se dos traumas do seu passado e do complexo de inferioridade que sempre sentiu. Colin Firth no papel de George VI e Geoffrey Rush no papel de terapeuta, são magníficos. Em suma: conhecimento histórico aliado a grandes momentos de cinema.

Uncle Boonmee (2010)

Realizado por: Apichatpong Weerasethakul
País: Tailândia
Este realizador de culto já nos habituou a filmes difíceis, de múltipla interpretação, ritmos lentos, ambiências hipnóticas e argumentos sobrenaturais. Este não foge à regra, lidando com temas como crenças místicas, memória e morte. A bela fotografia e narrativa desafiante contrasta com a frustração sentida quando nos perdemos no meio do enredo surrealista, sobretudo porque mexe mais com os sentidos e menos com as emoções. Não tão conseguido como os anteriores "Tropical Malady" e "Syndromes and a Century", não deixa de ter o mérito de ser amplamente debatido, dividindo críticos e audiências. Fantástico para uns e aborrecido para outros, fica a experiência de assistir a um filme no mínimo original.

The Temptation of St.Tony (2009)

Realizado por: Veiko Ounpuu
País: Estónia
Imaginem um filme com a magnífica fotografia e ambiguidade narrativa de Béla Tarr, o surrealismo de Luis Buñuel e o humor negro de Roy Andersson! É exactamente isto que nos chega da Estónia, onde é-nos apresentada uma das melhores obras de cinema contemporâneo, acrescida de paisagens desoladas e fantasmagóricas, excelente banda sonora e argumento intrigante. A história consiste nas experiências reais/sobrenaturais de um comerciante que apesar de ter um fundo bom, tem de lidar com o mal que o rodeia. A máxima das forças do mal: "é melhor destruir do que entregar o que se possui", é levada à letra num final aterrador, que visa mostrar a rendição e impotência da personagem principal.

True Grit (2010)

Realizado por: Joel and Ethan Coen
País: EUA

"True Grit" faz ressuscitar obras de outras décadas através das aventuras vividas no velho Oeste americano. Após o pai ter sido assassinado por um temível fora-da-lei, Mattie Ross de apenas 14 anos, vai contratar um Marshall (Jeff Bridges) bem conhecido pela sua bravura, determinação e bebedeira, para ir no seu encalço. Mais tarde irá juntar-se também um Ranger do Texas (Matt Damon) que se mostra interessado no prémio oferecido pela captura do bandido. Um western à boa moda antiga, de entretenimento garantido e onde não falta o humor, tão característico nas obras dos irmãos Coen.

The Boy in the Striped Pajamas (2008)

Realizado por: Mark Herman
País: Reino Unido

Filme baseado numa muito pouco provável (mas ainda assim possível) amizade secreta entre duas crianças durante a Segunda Grande Guerra, sendo que um é filho de um comandante alemão e o outro é um prisioneiro judeu num campo de concentração. Assiste-se ao filme com alguma curiosidade, mas este nunca consegue o impacto emocional pretendido. O final é como que um castigo para as famílias alemães que nunca saberão o que é perder um filho numa câmara de gás. Após o relativo sucesso de "Brass Off" em 1996, e de outros filmes de pouco relevo, Herman tinha aqui uma oportunidade para relançar a carreira. Vamos esperar pela próxima...

The Imaginarium of Doctor Parnassus (2009)

Realizado por: Terry Gilliam
País: Reino Unido

Terry Gilliam já nos habituou à qualidade do seu cinema fantástico. Autor de obras-primas inquestionáveis ("Brazil"; "Fear and Loathing in Las Vegas"; "12 Monkeys"; "The Fisher King" e alguns "Monty Python"), era de esperar um pouco mais deste seu novo filme. No início é como um confuso puzzle, onde a imortalidade e a mentira andam de mãos dadas. No final, quando começamos a descortinar melhor a história, até nem desgostei, apesar de ter ficado com a sensação de que se o argumento conseguisse estar ao mesmo nível que a parte visual, teríamos um filme bem mais interessante.

Around a Small Mountain (2009)

Realizado por: Jacques Rivette
País: França
Inspirado na vida do escritor surrealista francês Raymond Roussel, este novo filme do aclamado Jacques Rivette, possui um argumento simples e sem grandes surpresas. Vittorio ao vaguear por uma cidade no Sul de França, cruza-se com Kate, quando esta solicita ajuda com o seu carro avariado na estrada. Convidado a assistir ao circo onde Kate se encontra a trabalhar, fica intrigado ao saber que esta está de volta após ausência de 15 anos devido a um trágico acidente. Ao notar que se encontra perturbada, decide ajuda-la, chegando à conclusão que terá de reviver toda a situação passada para poder libertar-se. Bem mais interessantes deste realizador são: "La Belle Noiseuse", "Va Savoir" e "The Duchess of Langeais".

Somewhere (2010)

Realizado por: Sofia Copolla
País: EUA
Johnny Marco é uma estrela de Hollywood que leva uma vida de luxos. Tanto é o luxo, que parece não sentir verdadeiro prazer em nada do que faz. Com residência fixa no hotel "Chateau Marmont" na Califórnia, Johnny é frequentador assíduo de festas e adepto fervoroso de mulheres bonitas. O seu estado de espírito ficará abalado quando a sua filha de onze anos lhe aparece à porta para ficar por um período de tempo indeterminado devido à ausência da mãe (com quem vive). Johnny vai então reflectir um pouco mais sobre a vida que leva...Argumento interessante num filme razoável de Sofia Copolla, sem o brilhantismo alcançado noutras obras, casos de: "Lost in Translation" e "The Virgin Suicides".

Rabbit Hole (2010)

Realizado por: John Cameron Mitchell
País: EUA
Um casal tenta recuperar-se psicologicamente, após a perda do seu único filho de 4 anos, atropelado de forma acidental. 8 meses após o trágico acontecimento, pai e mãe abandonam a terapia de grupo, lidando de forma muito diferente com a situação. Ele procura distrair-se através do convívio social, onde por vezes fuma erva com uma colega da terapia de grupo, e jogando squash com um amigo. Ela por sua vez, procura desesperadamente conversar com o jovem que atropelou o filho e ocupar-se com culinária. Apesar de soar a comédia, trata-se de um drama que vislumbra uma pontinha de esperança na lenta recuperação que estes dois seres humanos feridos, terão de passar, para conseguirem manter-se juntos.

Joan Rivers: A Piece of Work (2010)

Realizado por: Ricki Stern / Anne Sundberg
País: EUA

Documentário sobre a vida e carreira de Joan Rivers, famosa comediante americana, actualmente com 75 anos e ainda no activo. Expondo os seus dramas pessoais, Rivers não desiste dos seus sonhos com facilidade, apesar das dificuldades que enfrenta. Com uma profissão sujeita aos altos e baixos da cruel indústria do "show business", Rivers tem como maior pavor, o vir a perder o seu sucesso e ter a sua agenda em branco com a crise actual. Um fiel retrato duma mulher mal amada, irreverente e solitária, apesar do sucesso alcançado em tempos.

Never Let Me Go (2010)

Realizado por: Mark Romanek
País: Reino Unido
Baseado num romance do japonês Kazuo Ishiguro, surge-nos esta história sobre três jovens "clones" e sobre a sua triste realidade. Desde a sua criação que se encontram a ser preparados numa escola especial, para virem a ser doadores de orgãos à humanidade.Apesar de algumas inconsistências no argumento e de deixar muita coisa por explicar, é envolvido numa atmosfera particular e cativante, ajudando também a qualidade já demonstrada pelos jovens actores que o interpretam. É futurista na ideia, mas transparece todo o realismo humano a nível das emoções e comportamentos, tornando-o bem mais interessante. Depressivo e sem esperança, no final fica a pergunta: nenhum clone se revolta?

Lola (2009)

Realizado por: Brillante Mendoza
País: Filipinas
Realizado no mesmo ano que o aflitivo "Kinatay", "Lola" é um filme totalmente diferente daquele. Sendo mais leve, compassado e com uma bonita fotografia, não deixa de denunciar os diversos problemas sociais vividos nas Filipinas. Duas avós, sofrem as consequências de um crime que envolve os seus netos, sendo que um é acusado de ter assassinado o outro. Pobres e debilitadas, terão de enfrentar-se nos tribunais, podendo negociar entre ambas de modo a chegarem a um entendimento financeiro que possibilite o pagamento da fiança de um dos netos e as despesas do funeral do outro. Duas obras desta qualidade no mesmo ano, é caso para dizer: Brilhante...Mendoza!!

I've Loved You So Long (2008)

Realizado por: Philippe Claudel
País: França

Uma mulher, médica de profissão, esteve encarcerada numa prisão durante 15 anos, após matar o seu próprio filho de 6 anos. Ao ser libertada, vai viver temporariamente para casa da sua irmã mais nova, tentando readaptar-se novamente à sociedade. Muito lentamente, vai libertando-se da frieza e da amargura que a caracterizam, guardando a revelação do seu segredo (os motivos que levaram ao crime) para o final. Com excelentes interpretações em geral, o filme peca por ser demasiadamente previsível. Vencedor para melhor filme estrangeiro nos BAFTA Awards.

Hereafter (2010)

Realizado por: Clint Eastwood
País: EUA

Com mais interesse do que o seu antecessor "Invictus", "Hereafter" marca o regresso de Clint Eastwood à realização. Desta feita tendo a morte como tema central, apresentada aqui de diferentes formas através da história de três personagens. Um americano que possui um dom para contactar com espíritos, uma francesa que passou por uma experiência de quase-morte e um miúdo londrino que perdeu o seu irmão gémeo num acidente. Um argumento bem escrito e uma realização a que Eastwood já nos habituou, assumindo o risco de que à partida os descrentes numa vida para além da morte não ficarão satisfeitos.