Mysteries of Lisbon (2010)

Realizado por: Raoul Ruiz
País: Portugal

Filme com a duração de 272 min., que recria o ambiente do séc. XVIII em Portugal, baseando-se na obra literária de Camilo Castelo Branco. Realizado elegantemente pelo chileno Raoul Ruiz, possui uma narrativa absorvente e uma ambiência perfeita, onde podemos acompanhar casos de amor proibido, mistério, vingança, revelações surpreendentes e estranhas coincidências. A fotografia cuidada, o guarda-roupa e a banda sonora escolhida, não poderiam ter sido melhores, ao que se juntam as magníficas interpretações e empenho dos actores. Uma verdadeira obra-prima, vencedora de diversos prémios em França, Espanha, Brasil e Portugal, e que aconselho vivamente.

Cold Weather (2010)

Realizado por: Aaron Katz
País: EUA

Filme sobre o desaparecimento misterioso de uma rapariga e o desvendar do enigma pelo seu ex-namorado (com reais pretensões a Sherlock Holmes), contando com a ajuda da irmã e de um colega de trabalho. Tentando enveredar por um cinema o mais natural e realista possível, o filme acaba por perder-se em enigmas, códigos e estranhas associações, mas sem o suspense necessário para captar a atenção. Diria tratar-se de um filme do tipo série B, com pretensões a thriller e brincando aos detectives amadores. Na perseguição final ainda sentimos algum ânimo, mas não chega para que o considere um filme a recomendar.

Hadewijch (2009)

Realizado por: Bruno Dumont
País: França
Céline é uma estudante de teologia a viver num convento. É tão devota ao cristianismo que se abstém de comer, fazendo com que a madre superiora a obrigue a sair para o mundo exterior, para que experiencie uma vida normal. A ingenuidade de Céline e a sua abertura de espírito, vão fazer com que tenha contacto com o Islão e com a violência a ele associada, após ter feito amizade com dois jovens muçulmanos. Um filme acerca da fé e do fanatismo religioso, onde os longos planos de Dumont repletos de simbolismo, pretendem demonstrar uma complexidade e profundidade que nunca chegam a atingir os níveis pretendidos por forma a impressionar.

Bridesmaids (2011)

Realizado por: Paul Feig
País: EUA
Confesso ser demasiado exigente com estas comédias americanas. Isto deve-se ao facto de a maioria delas (com excepção dos clássicos), basear-se em situações forçadas e piadas vulgares e estereotipadas. "Bridesmaids" não sendo das piores a que já assisti, também não assume lugar de destaque, enveredando por uma abordagem um tanto ou quanto irritante nas relações de amizade femininas. Kristin Wiigs, além de argumentista, desempenha um papel simpático como neurótica solitária, mas o destaque vai para Melissa McCarthy no papel de Megan - uma autêntica javarda cómica. Sendo demasiado longo para o que pretende mostrar, é um filme que proporciona risos espaçados mas não estimula o pensamento.


The Trip (2010)

Realizado por: Michael Winterbottom
País: Reino Unido
Com Steve Coogan e Rob Brydon (duas celebridades britânicas) a se representarem a si próprios, esta comédia com estilo de documentário, estranhamente captou a minha atenção, não só pelos diálogos e piadas dos intervenientes, mas também pelo realismo e naturalidade demonstrados. Tudo começa quando Steve é convidado pela revista "Observer" para fazer uma viagem de uma semana pelo norte de Inglaterra, a fim de avaliar a comida de certos restaurantes. Na impossibilidade de levar a sua namorada ausente, decide com alguma relutância levar o seu amigo Rob. Entre imitações de actores conhecidos, entoações de cantigas dos Abba e algumas conversas mais sérias, vão mostrar o quão diferentes são a todos os níveis.

Tuesday, After Christmas (2010)

Realizado por: Radu Muntean
País: Roménia
Exemplo de filme que envereda pela simplicidade e realismo na exposição das ideias. O argumento não é original, incidindo sobre um triângulo amoroso que acaba com o término de uma relação conjugal de algum tempo. A complexidade dos sentimentos envolvidos, é-nos mostrada através de subtis mas genuínos momentos de tensão. O realizador Muntean tem uma abordagem inteligente, ao não procurar culpados nem enveredando pelo moralismo para descrever a situação. Isto prova que um filme realizado de forma simples e sem recorrer a truques pode ser tão interessante como outro qualquer. Venham mais filmes da nova vaga romena, pois qualidade não lhes costuma faltar.

Red, White & Blue (2010)

Realizado por: Simon Rumley
País: EUA
Filme sobre três monstros da sociedade, demonstrando do que pode ser capaz um ser humano afectado psicologicamente. Servindo-se de toda a maldade possível, são personagens sem escrúpulos que não suscitam qualquer tipo de simpatia. Não recomendaria este filme a qualquer pessoa, pois quase nada existe de positivo e onde a violência crua e extrema atinge-nos, fazendo mossa. Aqui podemos encontrar tudo o que há de pior: solidão, trauma, isolamento, doença, insanidade mental, morte e vingança. Isto não significa que estas personagens não despoletem curiosidade, mas a brutalidade da violência evidenciada no final era dispensável e o filme perde pontos com isso, decidindo impressionar através do choque das imagens em vez de pela força da sua narrativa.


Montevideo, God Bless You (2010)

Realizado por: Dragan Bjelogrlic
País: Sérvia

Um filme "light" sobre dois jovens que se tornariam estrelas do futebol sérvio, invocando a época dos anos 30 em Belgrado. A amizade entre ambos e a vontade de fazerem parte da selecção da antiga Jugoslávia que foi ao Mundial em Montevideo no Uruguai, será no entanto abalada em alguns momentos devido a problemas com mulheres. Uma comédia dramática com um sentido nacionalista bem evidente, que se assiste bem num dia de descontracção, mas que não nos deixa grandes marcas. Nota negativa para os lances futebolísticos exibidos pelas estrelas em campo - um tanto forçados e pouco credíveis.

Trust (2010)

Realizado por: David Schwimmer
País: EUA
Filme com um argumento bem possível de ser real, servindo mais como chamada de atenção para rapariguinhas mais distraídas e adeptas dos "chats" cibernéticos. Com tudo para ser bem sucedido, o filme dá conta da violação de Annie de 14 anos, após um encontro com um homem mais velho que conheceu na Internet. Mas o que me deu a entender é que na mão deste realizador, o filme perdeu potencialidade, acabando por ser previsível e caindo no final para o melodrama do costume - a interpretação de Clive Owen não convence minimamente. Por vezes parecia que estava a assistir a um daqueles filmes feitos para a TV americana. Posto isto, o filme apenas tem valor educativo, incluindo para os pais, que por vezes precisam de mais orientação que as próprias filhas.

Chantrapas (2010)

Realizado por: Otar Iosseliani
País: França/Geórgia
De estilo ímpar, Iosseliani é caracterizado por enveredar por um estilo independente e sarcástico. Desta vez, faz um filme sobre um realizador georgiano (com muito de autobiográfico) que enfrenta dificuldades em exibir o seu cinema no seu país, devido à censura do regime soviético de então. Frustrado mas fiel aos seus princípios (recusando filiar-se no partido marxista), parte para França, mas cedo se apercebe que os produtores franceses também não lhe proporcionam a liberdade criativa que reclama. "chantrapas" que significa exilado/banido, recorre ao surrealismo para mostrar o "afundar" da criatividade, sendo um filme que vale pela coragem e honestidade demonstradas, mas que dificilmente agradará à maioria dos espectadores.

Jane Eyre (2011)

Realizado por: Cary Fukunaga
País: EUA
Dezenas de "remakes" já foram feitos baseando-se nesta popular obra literária de Charlotte Bronte. A beleza e a personalidade de uma governanta vão conquistar o coração do seu patrão. No entanto, ele esconde um segredo que mudará o rumo dos acontecimentos. Esta versão, apesar de contar com boas interpretações e da excelente recriação do ambiente da época, não proporcionou grande impacto. Contando com uma grande aceitação pela crítica americana, o problema talvez resida no facto da história já ser conhecida e sendo assim, as surpresas não são em grande número, deixando o espectador mais num estado de contemplação do que propriamente de emoção.

Win Win (2011)

Realizado por: Tom McCarthy
País: EUA

"Win Win" é um filme simpático, com personagens bem definidas e interessantes. Conta a história de Mike, um advogado (e treinador de wrestling nas horas livres) com dificuldades financeiras, que se torna "guardião" de um seu cliente de idade avançada e dado como incapacitado para viver sozinho, apenas para receber o dinheiro da sua pensão. Ao colocar o velhote num lar de idosos, Mike julga ter dado o golpe perfeito para resolver os seus problemas. Mas a chegada inesperada de um neto do velhote, de 16 anos, irá provocar mudanças nos seus planos de vida familiar e desportiva. As excelentes interpretações ajudam a consolidar o realismo da história.

The Human Resources Manager (2010)

Realizado por: Eran Riklin
País: Israel

O responsável pelos recursos humanos de uma padaria em Israel, tentando recuperar a boa imagem posta em causa por um artigo difamatório de um jornal local, parte para uma viagem à Rússia a fim de levar o corpo de uma ex-funcionária natural daquele país recentemente falecida. Ao tentar estabelecer contacto com os familiares da defunta, vai perceber que nem tudo será fácil. Ficam na retina paisagens desoladoras num filme pouco memorável. Quando tenta ser engraçado para quebrar o ritmo arrastado, não é muito bem sucedido, o que também acontece quando envereda pela via sentimental e dramática.

13 Assassins (2010)

Realizado por: Takashi Miike
País: Japão

Surpreendente incursão de Takashi Miike pelos filmes de samurais, após ter ficado conhecido por algumas das mais bizarras obras que marcaram o cinema moderno. A história deste filme leva-nos a um dos maiores vilões jamais vistos em histórias de samurais (Lord Naritsugo) e invoca os melhores clássicos do género, popularizados por Akira Kurosawa. Pessoalmente, prefiro a originalidade dos filmes anteriores de Miike, casos de "the happiness of the katakuris" e "bird people in china", mas este não deixa de marcar um lugar de destaque dentro do seu género, contando com uma excelente realização e entretenimento assegurado.

A Screaming Man (2010)

Realizado por: Mahamat-Saleh Haroun
País: Chade

Adam Ousmane, é um homem na casa dos sessenta e antigo campeão de natação. Daí a sua paixão pelo seu trabalho: responsável pela piscina de um hotel, local onde também trabalha o seu filho. Quando o hotel é privatizado, começam a haver ajustes de tarefas e despedimentos que irão influenciar a vida da família Ousmane. Aos poucos, vamos entrando no mundo de Adam, compreendendo os seus problemas e sentindo a sua angústia, onde a guerra e a insegurança também marcam presença. Com uma carga emocional muito forte, ficamos aturdidos pela brutalidade do seu desfecho.

Barney's Version (2010)

Realizado por: Richard J. Lewis
País: EUA

O filme retrata a vida do irascível e energético Barney Panofsky desde a sua juventude até à sua morte. Passando por diversos casamentos, Barney fixa-se finalmente em Miriam, a verdadeira mulher da sua vida, mas a vida prega partidas e nem sempre irá correr de feição. Competente sem ser deslumbrante ou algo que não tivéssemos visto antes, vive muito da magnífica interpretação de Paul Giamatti, o actor carismático que tem provado o seu real valor nos papeis principais que desempenha, como em "sideways"(2004) e "win win"(2011) - este último a ser comentado brevemente. Dustin Hoffman no papel de pai, dá o toque de humor final.

The Girl Who Kicked the Hornet's Nest (2009)

Realizado por: Daniel Alfredson
País: Suécia

Última parte da trilogia Millenium, baseada na obra literária de Stieg Larsson. Apesar de "the girl with the dragon tattoo" ser o filme mais badalado e estar a ser alvo de um remake americano pelo realizador David Fincher, achei que esta última parte encontra-se ao mesmo nível do outro. O enredo até corria bem, mas no último terço, o "caldo" é entornado com o acerto de contas feito pela cyber-punk Lisbeth Salander, a deixar muito a desejar e a acabar com a questão de forma a despachar a coisa. Resumindo: acompanha-se bem, mas sem grandes níveis de entusiasmo.

Incendies (2010)

Realizado por: Denis Villeneuve
País: Canadá

Um filme poderoso e perturbador. Com um enredo bem construído, tem o condão de nos prender do princípio ao fim, até ao choque final. Dois gémeos de origem palestiniana a viverem no Canadá, recebem duas cartas da mãe, preparadas para serem entregues após a sua morte. As cartas dizem que deverão procurar o seu pai, o qual julgavam morto, e o seu irmão que nunca chegaram a conhecer. Para isso terão de viajar até ao Médio Oriente para descobrir a verdade há muito escondida. Um grande filme, que teria sido um digno vencedor do Óscar para melhor filme estrangeiro 2011.

The Yellow Sea (2010)

Realizado por: Na Hong Jin
País: Coreia do Sul
Gu-Nam, um taxista viciado no jogo, endivida-se, acabando por ser ameaçado por um grupo mafioso. A sua mulher encontra-se desaparecida em Seul, para onde partiu com o objectivo de ganhar dinheiro extra. É então que, sabendo da situação, um gangster local faz-lhe uma proposta: partir clandestinamente para aquela cidade a fim de matar um homem. Em troca, este liquidará a sua dívida, enquanto Gu-Nam poderá procurar a sua mulher. O argumento é bom, mas o filme à boa maneira coreana insiste em demasiados banhos de sangue e em perseguições levadas ao exagero, acabando por causar algum cansaço, após mais de duas horas e meia. Do realizador de "the chaser", filme já comentado neste blog.

The First Beautiful Thing (2010)

Realizado por: Paolo Virzi
País: Itália

Este é o 11º filme de Paolo Virzi e o que mais sucesso obteve até agora. Ao estilo familiar, começou por não me cair muito em graça, pretendendo ser um daqueles dramas profundos e ao mesmo tempo comédia ligeira à italiana. Com o andar do filme, o nível sobe, mas apesar de alguns momentos afectuosos e engraçados, não consegue ser um filme marcante e inesquecível. Prémios do cinema italiano para as duas actrizes que dão corpo à personagem principal, em fases distintas da sua vida.