Viva Riva! (2010)

Realizado por: Djo Munga
País: R.D. Congo

A história de Riva, um contrabandista de combustível que retorna ao Congo para fazer negócio, após ter estado ausente em Angola por 10 anos. Acção, múltiplas traições e diversas reviravoltas no argumento não são suficientes para se livrar da abordagem comercial do tipo série B. Transmite bem o caos vivido em Kinshasa e a atmosfera tensa que a envolve, mas recorre frequentemente a cenas já demasiado standardizadas de sexo e violência ao pior estilo "hollywoodesco". É pena que o primeiro filme congolês vá buscar toda esta inspiração americana, em detrimento do uso de uma "linguagem" mais personalizada.

My Joy (2010)

Realizado por: Sergei Loznitsa
País: Ucrânia
Filme amargo e brutal sobre a completa alienação de Georgy, um camionista que parte numa viagem sem regresso, um autêntico pesadelo que acabará por fazer com que perca a moral e o juízo. Este será confrontado com os frequentes abusos de poder por parte das autoridades soviéticas, acabando por ser vítima da desolação e miséria que envolvem o seu país decadente. Tudo isto é retratado através de ladrões, ex-combatentes traumatizados, funcionários corruptos e até prostituição infantil. Não é um filme fácil de se assistir e por vezes até é de difícil leitura, mas nunca perde o sentido nem deixa de ser interessante, num retrato poderoso e crítico de uma Ucrânia em declínio.

The Fatherless (2011)

Realizado por: Marie Kreutzer
País: Áustria

Após a morte de Hans, o chefe de uma antiga comunidade hippie, toda a sua família reúne-se na sua casa, inclusive uma filha que estava ausente há 20 anos. Segredos, revelações e emoções vão sendo deitados para fora neste drama familiar que não funcionou para mim. Um tanto artificial na forma como é apresentado e até pretensioso, procura ser complexo, mas expõe os traumas de cada personagem de uma forma demasiado abrupta e directa que acaba por nos fazer perder o interesse. Kreutzer, venceu o prémio para "melhor obra de estreia" no Festival de Berlim.

Izlet - A Trip (2011)

Realizado por: Nejc Gazvoda
País: Eslovénia
Estreia promissora do esloveno Gavozda neste "road-movie" de baixo orçamento. Com apenas três actores, faz uso de uma história simples mas bem actual, abordando a juventude, a amizade, a chegada da idade adulta e até a política, ao confrontar as expectativas de futuro e os problemas actuais da Eslovénia. Uma viagem feita por 3 grandes amigos, 7 anos após terem terminado o liceu, em que aos poucos vamos conhecendo mais sobre as suas vidas através das suas revelações. A caracterização "acriançada" destas jovens personagens na fase inicial do filme, acaba por induzir-nos em erro, pois virão ao de cima reflexões mais adultas e conscientes à medida que o tempo vai passando.

Habemus Papam (2011)

Realizado por: Nanni Moretti
País: Itália

Possuindo um início imaginativo, com o novo Papa eleito a por-se em fuga com um ataque de pânico, acaba por vir a desiludir à medida que a trama avança, tornando-se numa "paródia" religiosa num cenário irrealista e por vezes completamente estúpido. O realizador Moretti, como já vem sendo hábito, também participa como actor, representando o papel de um psicólogo chamado pelo Vaticano para resolver o caso. Tanta animação, dá subitamente lugar a um final sério e até desconcertante, mas já vem tarde, não conseguindo fazer com que este filme deixe boa recordação.

Cave of Forgotten Dreams (2010)

Realizado por: Werner Herzog
País: França

Herzog conseguiu autorização exclusiva para filmar o interior das grutas de Chauvet, no Sul de França, captando as pinturas mais antigas feitas pela mão de um ser humano. É inquestionável o interesse do tema abordado, assim como a maneira como o filme vai crescendo, mas é também verdade que se trata de um documentário que não puxa pelas nossas emoções ou nos faz levantar da cadeira. Suponho que seria difícil fazer melhor, uma vez que é um tema "estático" (sem polémicas ou conflitos, mas com muitas questões) e que não dá grande manobra de criação. Vale essencialmente pela informação prestada e pelas imagens lindíssimas do interior das grutas.

Irène (2009)

Realizado por: Alain Cavalier
País: França

Trata-se de um filme intimista e muito pessoal do realizador que invoca a lembrança da sua mulher, falecida num desastre de automóvel. Cavalier apresenta-nos um monólogo nostálgico, filosófico e sentido (com alguma culpa à mistura?), ao mesmo tempo que mostra imagens de determinados lugares revisitados que tiveram algum significado para ambos. É triste e por vezes angustiante, parecendo mais longo do que é na realidade e exigindo do espectador um estado de espírito propício para que o consiga sentir verdadeiramente. Vejo este filme como uma "libertação" pessoal do realizador e não como algo significativo para quem o vê.

The Kid With a Bike (2011)

Realizado por: Luc e Jean-Pierre Dardenne
País: Bélgica
Os irmãos Dardenne, voltam a pegar no seu tema favorito - o relacionamento entre pais e filhos, e criam mais uma magnífica história, à semelhança do que já tinha acontecido em obras anteriores ("rosetta", "the child"). Cyril é um miúdo abandonado pelo pai que vive num centro de acolhimento para crianças. Aos fins-de-semana, é acolhido por Samantha, uma cabeleireira, a qual conheceu acidentalmente quando procurava o seu pai no bairro onde habitava. Revoltado e encontrando-se num estado emocional muito frágil, não tardará a ser tentado por más companhias. Ultra-realista e possuindo um excelente trabalho de câmara, consegue demonstrar na perfeição, o estado de espírito das diversas personagens.

Tourneé (2010)

Realizado por: Mathieu Amalric
País: França
Amalric realiza e dá corpo ao personagem principal neste filme "burlesco", livre e de certa forma anárquico, no que respeita à sua concepção e abordagem. Joachim Zand é um homem falhado, tanto na vida pessoal, como na vida profissional, onde desempenha as funções de produtor de um show de mulheres. Um show burlesco que havia começado nos EUA e que Zand transformou numa tourneé pela França, com a promessa de actuarem em Paris. O filme é composto por "colagens" de interessantes momentos vividos por estas personagens ao longo da tourneé, com os conflitos e intimidades inesperadas que se estabelecem num conjunto de pessoas que passam a maior parte do tempo juntas. Melhor realização no Festival de Cannes.

The Help (2011)

Realizado por: Tate Taylor
País: EUA

A segunda longa metragem realizada por Tate Taylor (também ele actor e produtor), trata-se de uma comédia com toques dramáticos e propósito louvável, que se baseou na descriminação das mulheres de raça negra que se encontravam ao serviço de famílias brancas na cidade de Jackson, Mississipi, durante os anos 60. Possui momentos com algum bom humor, mas não consegue manter um nível contínuo, tornando-se umas vezes "tolo" e outras sentimental. Apesar deste facto, e graças à excelente interpretação das actrizes intervenientes, consegue aguentar-se de forma razoável.

The Guard (2011)

Realizado por: John Michael McDonagh
País: Reino Unido

Com o humor inconfundível e mordaz característico dos britânicos, "the guard"é uma comédia bem movimentada que me agradou imenso. Com acção à mistura e umas "pinceladas" de film-noir, conta-nos as aventuras do Sargento Boyle, um polícia irlandês de uma pequena cidade rural, que possui uma personalidade controversa e desafiadora, mas 100% honesta. Enquanto os seus colegas aceitam subornos, Boyle vai juntar-se a um agente do FBI que se encontra de passagem para por termo a uma mega-operação de tráfico de droga. Para quem estiver interessado em dar umas boas gargalhadas.

I Will Follow (2011)

Realizado por: Ava DuVernay
País: EUA
O filme foca um dia na vida de Maye, uma mulher que abandonou a sua vida quotidiana faz um ano, para ir viver para o campo com uma tia cancerosa, como era desejo desta. Após a morte da tia, com quem tinha uma relação especial, Maye faz o seu melhor para lidar com o desgosto, sentindo-se confusa e desorientada. Tendo de empacotar todas as suas coisas num só dia, vai receber a visita de 12 pessoas. Entre familiares, vizinhos, amigos, ex-namorado e alguns trabalhadores, todas estas pessoas irão exercer certa influência no seu estado de espírito. Apesar de por vezes ser demasiado óbvio, é genuíno nas emoções que procura demonstrar, tratando-se de um filme honesto e humano.

Rare Exports (2010)

Realizado por: Jalmari Helander
País: Finlândia

Um bizarro conto de Natal chega-nos da Finlândia, onde o Pai Natal é capturado e é posto à venda. Num estilo que aparentemente é destinado à família, chegamos à conclusão mal o filme começa que se trata de uma comédia negra, não aconselhável a crianças. O herói da história é Pietari, um miúdo com bastante cultura natalícia que será responsável por uma operação arriscada na captura de duendes e na sua exportação como Pais Natal. Com uma boa dose de originalidade, poderia ter sido bem melhor no que respeita à sua execução (por vezes demasiado para encher o olho), acabando por não satisfazer em todos os aspectos.

Pina (2011)

Realizado por: Wim Wenders
País: Alemanha
Filme de homenagem a Pina Bausch, coreógrafa, professora e bailarina alemã de dança moderna e ballet. O filme é arrojado e diferente, constando de pequenos relatos de um grupo de dançarinos que trabalharam com Pina durante anos, por entre diversas representações das suas danças de estilo único. Movimentos compulsivos representando dor, amor, beleza e solidão são a imagem de marca, aliada a uma excelente e diversificada banda sonora. Mesmo sem perceber muito de dança, senti a qualidade e a emoção do que me estava a ser mostrado. O filme é uma experiência visual muito valiosa, mas como documentário nem por isso, pois nenhum detalhe da vida de Pina é focado, a não ser algumas das suas peças.

Page Eight (2011)

Realizado por: David Hare
País: Reino Unido

Johnny Worricker trabalha faz muitos anos como analista para a inteligência britânica. Após descobrir que o seu primeiro ministro tinha conhecimento dos locais preparados pelos americanos para torturar suspeitos de terrorismo, terá um problema para resolver. Ao mesmo tempo, terá de lidar com a morte do seu melhor amigo, tentar reconciliar-se com a sua filha e ajudar uma mulher síria a descobrir as circunstâncias da morte do seu irmão pelas mãos dos israelitas. Um thriller político não muito convincente, que necessitava de um pouco mais de brilho nas interpretações e de força no argumento para ser melhor sucedido.

Melancholia (2011)

Realizado por: Lars Von Trier
País: Dinamarca e outros

O filme começa com o que parece ser um casamento normal, mas cedo nos apercebemos que algo de estranho se passa. A noiva, Justine, possui um sexto sentido e parece dar grande importância às alterações de posicionamento das estrelas no céu, ignorando por completo o seu marido. A sua irmã, Claire, e o seu cunhado também parecem bastante inquietos. A pouco e pouco vai sendo desvendado o mistério: existe a ameaça do planeta "melancholia" colidir com a Terra. Uma "teoria do caos" saída da cabeça de um dos realizadores mais criativos e polémicos, num filme que, apesar da calma aparente, impressiona pelo pessimismo demonstrado. Excelente realização.


Carlos (2010)

Realizado por: Olivier Assayas
País: França
É longa mas muito bem feita a caracterização do terrorista e marxista mundialmente famoso, Ilich Ramirez Sanchez, mais conhecido pelo nome de código 'Carlos, o chacal'. Desde o início da sua actividade revolucionária e anti-imperialista nos anos 70, ao serviço da OLP, até os seus últimos dias de liberdade no Sudão, Carlos operou por todo o mundo, sendo responsável por diversos atentados, sobretudo na Europa e no Médio Oriente, contando sempre com a protecção de países de reputação duvidosa. Espionagem, raptos, perseguições, assassinatos e uma relação estranha com as mulheres que passaram pela sua vida, são abordados de forma realista, dando-nos uma excelente perspectiva da vida deste homem.

Silent Souls (2009)

Realizado por: Aleksei Fedorchenko
País: Rússia

Um homem parte numa viagem de carro com um amigo, levando o corpo da sua mulher com o objectivo de o cremar junto ao rio, numa cidade distante, onde guarda felizes recordações da sua lua-de-mel. Estes homens pertencem à tribo merjan, uma das etnias russas mais antigas, e apenas obedecem a um ritual funerário que é a tradição do seu povo quase extinto. Para eles, o rio é o destino de todos os mortos e a água que este contém é o juiz de cada alma que lá entra. Um filme sobre a morte e sobre uma cultura perdida, nostálgico, cinzento, mas bastante profundo. Vencedor de 4 prémios no Festival de Veneza.

The Breath (2009)

Realizado por: Lavent Semerci
País: Turquia
A saga de 40 soldados do exército turco estacionados na fronteira com o Irão, com o objectivo de defender o seu país dos terroristas curdos do partido PKK. O patriotismo turco é aqui levado a sério, num contexto bem realista nas imagens evidenciadas, mas possuindo também um lado poético nas reflexões sobre o amor e no pouco que nos é dado a conhecer sobre a vida pessoal de alguns soldados. Um filme complexo, com imagens perturbadoras, em que as diferenças entre as diversas personagem vêm ao de cima. Enquanto o sonho de uns é regressar a casa e reencontrar o amor deixado para trás, o de outros é apenas o de vingança e destruição do inimigo. Dentro do género, está perto da obra-prima.

Troll Hunter (2010)

Realizado por: Andre Ovredal
País: Noruega
A primeira lembrança que nos vem à cabeça quando começamos a assistir a este documentário fantasioso é o "Blairwitch Project", mas neste caso com maiores doses de diversão. Um grupo de estudantes universitários intrigados com as estranhas mortes de ursos numa região da Noruega, começam a investigar um misterioso caçador solitário, descobrindo que a causa das mortes prendem-se com a existência de "trolls", as míticas criaturas do folclore escandinavo. Com toques de comédia bem metidas pelo meio, magnífica caracterização dos trolls e realização de qualidade, é um filme para não levar a sério mas que proporciona bons momentos de diversão e alguma adrenalina.