The Autobiography of Nicolae Ceausescu (2010)

Realizado por: Andrei Ujica
País: Roménia

Filme que explora a imagem do ditador socialista romeno Ceaucescu, recorrendo exclusivamente a imagens de arquivo não oficiais. Sem narrativa, o filme vai alternando entre discursos, ovações populares, visitas de reconhecimento e encontros com diversos presidentes. Excessivamente longo, por vezes torna-se aborrecido nas partes em que a polémica não está à vista, mas transmite bem a ideologia anti-capitalista defendida por um homem que foi responsável por diversos massacres ao longo das duas décadas que esteve no poder, recorrendo a um regime brutal e opressivo.

Sleeping Beauty (2011)

Realizado por: Julia Leigh
País: Austrália
Filme de estreia para a australiana Julia Leigh apoiada pela sua conterrânea de maior sucesso, Jane Campion. Alvo de polémica, discussões e diversas críticas antagónicas após ser exibido em Cannes, trata-se de um filme frio e até distante, mas com muito que se lhe diga. Lucy é uma estudante universitária que para arranjar dinheiro (aparentemente para o seu namorado alcoólico), decide aceitar uma proposta para um trabalho pouco comum, além dos diversos empregos que já possui. Os diálogos não são um ponto forte do filme e não existem respostas concretas para o que se vai passando, chegando até a deixar uma sensação de vazio no final, mas também é verdade que nunca chega a tornar-se desinteressante.

The Names of Love (2010)

Realizado por: Michel Leclerc
País: França

Trata-se de uma comédia romântica francesa com personagens invulgares e inspirando-se na política francesa, nas diferenças raciais e na originalidade dos nomes das pessoas para servir de suporte às diversas "gags" criadas. Arthur Martin é um franco-judeu que um dia por acaso encontra Baya, outra francesa de origem argelina. A diferença entre ambos é abismal, tanto na idade como no resto, mas este casal está decidido a seguir em frente, mesmo parecendo que nada pode bater certo. Um filme modesto que se acompanha bem até final mas que não conseguiu entusiasmar-me.

Bellflower (2011)

Realizado por: Evan Glodell
País: EUA

Caos e alienação é o que este filme de estilo independente tem para oferecer. Dois amigos passam o seu tempo livre a construir um lança-chamas e sonhando com dias de acção para o seu gang imaginário denominado "medusa". Ao conhecerem um par de amigas numa noitada, vão envolver-se emocionalmente com estas, o que irá agravar o seu caos quotidiano. Das personagens deste filme pouco ou nada se retira de positivo e a conclusão a que se chega no final é de que todas elas precisam urgentemente de orientação psicológica.

Morrer Como um Homem (2009)

Realização: João Pedro Rodrigues
País: Portugal

A homossexualidade já se tornou o tema de marca dos filmes de João Pedro Rodrigues. "O fantasma" em 2000 e "odete" em 2005, são disso prova. Desta vez a forma de a abordar é através de Tonia, um veterano travesti, que se depara com diversas contrariedades no trabalho, na vida privada e na saúde. Um filme que não está isento de falhas, mas que assume os riscos frontalmente e sem medo de ir em frente naquilo que se propõe demonstrar. Poderia ser melhor se tivesse um pouco mais de zelo no argumento, mas as magníficas interpretações garantem o filme que foi premiado no Festival de Buenos Aires e obteve 2 nomeações para os Globos de Ouro de Portugal.

Black Venus (2010)

Realizado por: Abdel Kechiche
País: França
Este é um dos filmes mais directos e desconfortáveis que vi nos últimos tempos. Conta a verdadeira história de Saartjie, uma mulher da tribo sul-africana hotentote, que chega a Londres no ano 1808 para ser exibida como aberração num show produzido pelo seu ganancioso patrão branco. Problemas com a justiça inglesa, irão fazer com que parta para Paris, onde a libertinagem da aristocracia evidenciava-se como um cenário mais favorável. Mas a humilhação irá continuar, sendo ainda objecto de investigação científica e acabando os seus dias como prostituta e alcoólica. O seu busto que estava em exibição num museu de Paris foi devolvido à África do Sul após o fim do apartheid.

A Separation (2011)

Realizado por: Asghar Farhadi
País: Irão
A qualidade do cinema iraniano volta a ser destaque, mais uma vez pela mão de Asghar Farhadi, o realizador que já nos tinha presenteado em 2009 com "about elly". Se este já me tinha agradado imenso, "a separation" agradou muito mais. Com magníficas interpretações e realização simples, o filme toca em tantos pontos sensíveis da cultura iraniana que em tão poucas linhas não conseguiria enumerar tudo. Mas não se fica por aqui, pois foca também conflitos e teimosias comuns à vida de qualquer casal. Com apenas 5 trabalhos lançados, Farhadi pode figurar ao lado de Kiarostami, Makhmalbaf, Ghobadi e Majidi, como um dos maiores representantes do cinema iraniano.

Amer (2009)

Realizado por: Bruno Forzani e Helene Cattet
País: Bélgica
Um estranho filme experimental que recorre a sons, jogos de luz, respirações, cores e ambientes assustadores para contar em 3 partes a história macabra de Ana. Cada uma das parte representa um marco importante na vida desta personagem. A primeira na infância e o contacto com a morte e o sobrenatural, a segunda na adolescência e o desejo sexual reprimido, e a terceira na idade adulta com o regresso à casa da infância, a negação do desejo sexual e a aniquilação do objecto de desejo. A ideia é original e o resultado final é um misto de satisfação juntamente com a sensação de que poderia ser bem melhor, caso desse mais ênfase à narrativa em detrimento do turbilhão de imagens e sons.

Leap Year (2010)

Realizado por: Anand Tucker
País: Reino Unido

Confesso que este veio parar-me à mão por engano. Estava à espera de um filme mexicano de título original "año bisiesto", do mesmo ano e cujo título internacional era igualmente "leap year". Quando detectei o erro, apercebi-me logo que este não seria o meu género de filme, o que veio rapidamente a confirmar-se. Sem ponta por onde pegar, trata-se de um filme ridiculamente banal e sem graça, que nem para passar tempo serve de tão chato que é. Não o aconselho a ninguém e espero que enganos destes não me ocorram mais.

Drive (2011)

Realizado por: Nicolas Winding Refn
País: EUA

O dinamarquês Refn, sempre foi adepto da violência, bem evidenciada em filmes anteriores como "bronson" e "valhalla rising", e com "drive" não foge à regra. Neste caso a violência apresentada é sustentada através de uma boa história, aliada a uma boa realização e interpretação. Ryan Gosling interpreta um condutor que faz de "duplo" para o cinema e que ocasionalmente envolve-se em negócios obscuros, sempre de acordo com as regras que ele próprio estabelece. Tudo isto irá piorar quando conhece Irene, uma vizinha por quem se sente atraído, decidindo ajudar em tudo o que for preciso. A fogo lento, vai subindo de intensidade até final, sendo ainda de destacar a estranha banda sonora utilizada.

Beginners (2010)

Realizado por: Mike Mills
País: EUA
Não esperava que este filme tivesse tanto interesse, acabando por revelar-se uma surpresa inesperada. É um filme sobre a vida em geral e sobre o amor em particular. Com uma cadência que me agradou imenso, aborda o encontro entre dois seres humanos que partilham alegrias e tristezas, e que terão de lidar com todas as dúvidas que vão surgindo quando o relacionamento tende a tornar-se mais sério. É também uma reflexão sobre o quanto os nossos pais têm influência na formação da nossa personalidade e as consequências que isso implica pela vida fora, evidenciando-se em avanços e bloqueios. Além disto, apela à esperança, à compreensão do próximo e sobretudo a não desistir da busca pela felicidade.

Mothers (2010)

Realizado por: Milcho Manchevski
País: Macedónia
Manchevski, autor do imprescindível "before the rain", apresenta-nos 3 histórias desequilibradas e subtilmente interligadas, que se passam em 3 cidades diferentes da Macedónia. A primeira é sobre duas miúdas que denunciam um exibicionista à polícia sem nunca o terem visto. A segunda mostra-nos três cineastas que se deslocam a uma cidade rural, e conhecem dois irmãos que vivem completamente isolados mas que não se falam há 16 anos. A terceira história passa da ficção para o documentário, sendo demasiado longa e pormenorizada, foca um jornalista que torturou, violou e matou diversas empregadas de limpeza de uma fábrica.

Mamma Gógó (2010)

Realizado por: Fridrik Thor Fridriksson
País: Islândia

Um realizador de cinema à procura de sucesso, recusa-se a enveredar pelo estilo comercial de hollywood e luta desesperadamente contra as dívidas contraídas devido à fraca adesão ao seu filme por parte do público islandês. Ao mesmo tempo, recebe mais uma notícia desagradável: foi diagnosticada a doença de Alzheimer à sua mãe, a qual vive sozinha. Um filme sério e realista, mas suavizado por boas doses de humor e contando com uma notável interpretação da actriz Kreistbjorg Kjeld no papel de Gógó, que lhe valeu o prémio islandês para actriz do ano.

White White World (2010)

Realizado por: Oleg Novkovic
País: Sérvia

Filme super pesado no seu conteúdo e contando apenas com personagens amarguradas. Os temas são bastante deprimentes, tais como: o incesto (embora inconsciente), consumo de drogas e álcool, problemas de afecto, desolação e infelicidade. Tudo isto com umas canções sérvias pelo meio que deixam o ambiente ainda mais sombrio. Não consegui criar empatia com nenhuma das personagens, num filme que pouco ou nada tem de positivo e que não consegue surpreender, apenas deprimir.

Viva Riva! (2010)

Realizado por: Djo Munga
País: R.D. Congo

A história de Riva, um contrabandista de combustível que retorna ao Congo para fazer negócio, após ter estado ausente em Angola por 10 anos. Acção, múltiplas traições e diversas reviravoltas no argumento não são suficientes para se livrar da abordagem comercial do tipo série B. Transmite bem o caos vivido em Kinshasa e a atmosfera tensa que a envolve, mas recorre frequentemente a cenas já demasiado standardizadas de sexo e violência ao pior estilo "hollywoodesco". É pena que o primeiro filme congolês vá buscar toda esta inspiração americana, em detrimento do uso de uma "linguagem" mais personalizada.

My Joy (2010)

Realizado por: Sergei Loznitsa
País: Ucrânia
Filme amargo e brutal sobre a completa alienação de Georgy, um camionista que parte numa viagem sem regresso, um autêntico pesadelo que acabará por fazer com que perca a moral e o juízo. Este será confrontado com os frequentes abusos de poder por parte das autoridades soviéticas, acabando por ser vítima da desolação e miséria que envolvem o seu país decadente. Tudo isto é retratado através de ladrões, ex-combatentes traumatizados, funcionários corruptos e até prostituição infantil. Não é um filme fácil de se assistir e por vezes até é de difícil leitura, mas nunca perde o sentido nem deixa de ser interessante, num retrato poderoso e crítico de uma Ucrânia em declínio.

The Fatherless (2011)

Realizado por: Marie Kreutzer
País: Áustria

Após a morte de Hans, o chefe de uma antiga comunidade hippie, toda a sua família reúne-se na sua casa, inclusive uma filha que estava ausente há 20 anos. Segredos, revelações e emoções vão sendo deitados para fora neste drama familiar que não funcionou para mim. Um tanto artificial na forma como é apresentado e até pretensioso, procura ser complexo, mas expõe os traumas de cada personagem de uma forma demasiado abrupta e directa que acaba por nos fazer perder o interesse. Kreutzer, venceu o prémio para "melhor obra de estreia" no Festival de Berlim.

Izlet - A Trip (2011)

Realizado por: Nejc Gazvoda
País: Eslovénia
Estreia promissora do esloveno Gavozda neste "road-movie" de baixo orçamento. Com apenas três actores, faz uso de uma história simples mas bem actual, abordando a juventude, a amizade, a chegada da idade adulta e até a política, ao confrontar as expectativas de futuro e os problemas actuais da Eslovénia. Uma viagem feita por 3 grandes amigos, 7 anos após terem terminado o liceu, em que aos poucos vamos conhecendo mais sobre as suas vidas através das suas revelações. A caracterização "acriançada" destas jovens personagens na fase inicial do filme, acaba por induzir-nos em erro, pois virão ao de cima reflexões mais adultas e conscientes à medida que o tempo vai passando.

Habemus Papam (2011)

Realizado por: Nanni Moretti
País: Itália

Possuindo um início imaginativo, com o novo Papa eleito a por-se em fuga com um ataque de pânico, acaba por vir a desiludir à medida que a trama avança, tornando-se numa "paródia" religiosa num cenário irrealista e por vezes completamente estúpido. O realizador Moretti, como já vem sendo hábito, também participa como actor, representando o papel de um psicólogo chamado pelo Vaticano para resolver o caso. Tanta animação, dá subitamente lugar a um final sério e até desconcertante, mas já vem tarde, não conseguindo fazer com que este filme deixe boa recordação.

Cave of Forgotten Dreams (2010)

Realizado por: Werner Herzog
País: França

Herzog conseguiu autorização exclusiva para filmar o interior das grutas de Chauvet, no Sul de França, captando as pinturas mais antigas feitas pela mão de um ser humano. É inquestionável o interesse do tema abordado, assim como a maneira como o filme vai crescendo, mas é também verdade que se trata de um documentário que não puxa pelas nossas emoções ou nos faz levantar da cadeira. Suponho que seria difícil fazer melhor, uma vez que é um tema "estático" (sem polémicas ou conflitos, mas com muitas questões) e que não dá grande manobra de criação. Vale essencialmente pela informação prestada e pelas imagens lindíssimas do interior das grutas.